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Um clube popular
Quando Oscar Cox fundou o Fluminense Football Club em 21 de julho de 1902, numa sede localizada no número 51 da Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, não poderia imaginar que um clube marcado pela nobreza logo tomaria o gosto popular. Desde os seus primórdios, o Tricolor teve entre seus sócios e freqüentadores representantes das famílias mais tradicionais do Rio de Janeiro. Hoje, o clube está entre as 10 maiores torcidas do país. A sua bela sede das Laranjeiras, de aspecto europeu, contrasta com a paixão unicamente brasileira de seus torcedores.
Oscar Cox chegou da Suíça, em 1897, com a idéia de formar um time de futebol (o que só aconteceria quatro anos mais tarde), e ao mesmo tempo trouxe pela primeira vez para o Rio o esporte que seria o mais popular do Brasil dentro de pouco tempo. Desde a sua fundação, o Fluminense foi pioneiro das evoluções do futebol no Rio.
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Em 15 de julho de 1904, após leitura de carta de Oscar Cox e Mário Rocha enviada da Inglaterra na Assembléia Geral Extraordinária, o Fluminense trocou a camisa anterior, de cor cinza e branco, pela tricolor. Devido à impossibilidade de conseguir tecido na cor cinza, porque não existia no mercado, eles sugeriram as cores grená, branco e verde. A indicação foi posta em votação e aceita de imediato.
O Fluminense começou a se desprender totalmente da elitização a partir da primeira metade da década de 20, quando o futebol brasileiro finalmente penetrou nas camadas mais baixas da sociedade. O clube das Laranjeiras, nessa época, foi um dos pioneiros na luta pela profissionalização dos jogadores, deixando de restringir a prática do futebol aos associados dos clubes.
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Mas foram as grandes conquistas nos gramados que alçaram o Fluminense a um dos clubes mais populares do Brasil. Ainda quando o futebol engatinhava, o Tricolor consolidava sua condição de elite, não social, mas esportiva, com o tetracampeonato estadual 1906-1909.
Nos anos que se seguiram, o Fluminense jamais deixou de ser um ícone do esporte brasileiro, não só no país, mas também no mundo. O Tricolor fascinou pela sua disciplina e recebeu do Comitê Olímpico Internacional, em 1949, a Taça Olímpica, pelos serviços prestados ao esporte.
Três anos mais tarde, em 1952, quando o Maracanã ainda chorava a perda da Copa do Mundo para o Uruguai, em 1950, o Fluminense fez o maior estádio do mundo voltar a sorrir conquistando ali a Copa Rio, primeira versão do Mundial Interclubes. Com Castilho, Píndaro, Bigode, Telê e Zezé Moreira no comando, o Tricolor fez crescer a auto-estima do povo carioca batendo Sporting, Grasshoppers, Peñarol, Austria Vienna e o Corinthians, na final, levando a taça.
Já consolidado como um dos maiores clubes do Brasil, o Fluminense continuava a encher de orgulho torcedores de todas as classes sociais com seus títulos e times memoráveis. No Rio de Janeiro, a hegemonia permanece desde a Máquina Tricolor de Rivelino, que conquistou o bi de 1975-76 até o time comandado por Abel Braga, que levantou o 30º Campeonato Estadual, em 2005.
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Gol de barriga completa 13 anos
Quase dez anos de jejum era demais para um clube vencedor como o Fluminense. Pela primeira vez no Campeonato Carioca, a vitória passava a valer 3 pontos. O Flamengo, no ano do seu centenário, tinha montado um timaço e era favorito ao título. No Fluminense, os dirigentes apostavam suas fichas no técnico pé-de-coelho Joel Santana e nos veteranos Aílton e Renato Gaúcho.
Na primeira fase, a campanha não foi boa. Veio o turno final. Um empate em 0 a 0 com o América e uma derrota para o Botafogo fizeram com que todos achassem que o Tricolor estava fora. Afinal, o Flamengo tinha entrado com três pontos de vantagem e era o grande favorito. Mas o Flu foi se recuperando e venceu todos os adversários, inclusive o próprio Flamengo no primeiro turno por 4 a 3. Seu único tropeço foi um empate em 0 a 0 contra o Botafogo. No dia 25 de julho, ele entrava em campo pela última rodada com a obrigação de vitória sobre o Flamengo, o empate dava o título aos rubro-negros.
No primeiro tempo, o Fluminense jogou sozinho, passeou em campo, fez o que quis. Logo aos 30 minutos, Renato Gaúcho calou a torcida urubu marcando 1 a 0. Gol de craque. Pouco depois, Márcio Costa deu um chute meio sem pretensão e o goleiro Roger soltou a bola, que sobrou para Leonardo enfiar: 2 a 0.
Mas veio o segundo tempo e os tricolores pensaram: "Pô, futebol é espetáculo. Se a gente enfia logo uma cacetada de gols no Flamengo o jogo fica sem graça. Vamos deixar esses manés empatarem". E os manés empataram. Faltavam dez minutos para acabar o jogo e o Flamengo conseguir fazer 2 a 2. A torcida urubu vibrava, pois empatar com o Fluminense era mesmo uma façanha. Logo em seguida, o lateral Lira foi expulso. E agora? Fazer mais um gol e com um jogador a menos. Aos 42 minutos do segundo tempo, o Flu mostrou que este Campeonato era seu.
Aílton pegou uma bola pelo lado direito, dominou e procurou o Branco, que deveria estar por ali marcando. Mas tinha dao um branco no Branco e ele esqueceu que era lateral. Aílton estava sozinho, entrou na área e apareceu o Charles Guerreiro para marcá-lo. Aílton deu um come no Charles pra esquerda e o jogador ficou descadeirado. Aílton deu outro drible, agora para direita. Até hoje o Charles vagueia pelos becos querendo saber aonde está o Aílton.
O jogador tricolor chutou e, como vocês sabem, a bola sempre procura o craque. Renato dentro da área respondeu: "Você está procurando um craque? Então é comigo mesmo." Mas Renato não ia fazer um simples gol com o pé ou com a cabeça. Futebol é espetáculo. Este Campeonato Carioca merecia um gol diferente. E Renato fez o gol de umbigo! A bola chutada por Aílton bateu na barriga do Renato e morreu no fundo das redes. Era o gol do título. Gol de barriga aos 42 do segundo tempo. Fluminense Campeão Carioca. Principalmente porque não existe coisa melhor do que ganhar um título em cima do Flamengo.
FLUMINENSE 3 X 2 FLAMENGO
Local: Maracanã (RJ)
Data: 25/06/95
Árbitro: Léo Feldman
Gols: Renato Gaúcho (30m/1º e 41m/2º), Leonardo (42m/1º), Romário (26m/2º) e Fabinho (32m/2º).
Público pagante: 109.204
FLUMINENSE
Wellerson, Ronald, Lima, Sorlei e Lira; Márcio Costa, Aílton, Djair e Rogerinho (Ézio); Renato Gaúcho e Leonardo (Cadu).
Técnico: Joel Santana
FLAMENGO
Roger, Marcos Adriano (Rodrigo), Gélson, Jorge Luís e Branco; Charles Guerreiro, Fabinho, Marquinhos e William (Mazinho); Romário e Sávio.
Técnico: Vanderlei Luxemburgo.
Fonte: http://www.fluminense.com.br
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